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terça-feira, 13 de abril de 2010

“Depois de mim o caos”

Bem poderia ser este o slogan de José Sócrates para os (últimos) anos que lhe restam na ribalta do poder. E se o “slogan” já há muito se adivinha verdadeiro a nível da sucessão do José Sócrates secretário-geral do Partido Socialista, o Congresso do PSD de aclamação da nova liderança demonstrou que a frase terá plena aplicação também a nível nacional, na sucessão do José Sócrates primeiro-ministro.
De facto, quem seguiu atentamente o último congresso do maior partido da oposição, não pode auspiciar bons ventos. O congresso nada mais foi que uma reunião de gente a quem, passada quase uma década, começa a cheirar a poder e que, por causa disso, se apressa a “aparecer” e a mostrar-se.
O que mais surpreende é que todo este acreditar e toda esta esperança é alicerçada apenas e só no facto de o líder ser, em termos de marketing falando, vendável. Há que admitir que o novo líder do PSD tem a postura e o aspecto de primeiro-ministro que sem dúvida faltava a Ferreira Leite. No entanto, a nível de conteúdo o novo líder é de um vazio confrangedor, e consegue apresentar uma visão ainda menos coerente e profunda para o País que a anterior líder.
A nova cara do PSD é uma embalagem muito apelativa, mas vazia por dentro. Um discurso nada empolgante, mesmo chato em alguns momentos, com a apresentação de algumas medidas desgarradas que nenhuma novidade trazem – umas do CDS, outras do PS e outras já defendidas e implementadas sem sucesso por anteriores governos PSD – e, pior e mais grave, não demonstram qualquer visão de futuro ou rumo para o País.
Depois a tentativa de Passos Coelho, até louvável, de criar a unidade do partido, chamando os derrotados e tentando reunir numa mesma lista todas as sensibilidades de um partido que mais não é que uma federação de sensibilidades. Peca por ingénua, e depressa se revelou apenas cosmética, com a ausência ensurdecedora de Santana Lopes, Marcelo Rebelo de Sousa e de Marques Mendes, assim como com a recusa de Morais Sarmento em ceder a quaisquer “unanimismos”; mas como se não bastassem aquelas ausências, ainda o congresso não tinha terminado e já éramos presenteados com as habituais incongruências internas do PSD, protagonizadas por dois candidatos às Finanças de um futuro governo PSD, com o deputado Miguel Frasquilho a dizer à comunicação social que o governo PSD teria inevitavelmente que baixar os salários e as pensões nacionais, logo a ser desmentido por Nogueira Leite que apelidou aquelas afirmações de “divagações académicas”. Mais uma vez, como tudo em Passos Coelho, apenas cosmética, uma unidade imposta e sem qualquer vontade dos unidos em estarem realmente juntos…
Mas a falta de calo político e a falta de personalidade forte de Passos Coelho, ficou ainda bem patente e demonstrada no episódio caricato do “encontro com bloggers” promovido pelo líder do PSD no decorrer do congresso. Se esquecermos o facto de ser tal encontro uma cópia mal amanhada do que José Sócrates fez há quase um ano atrás, a verdade é que logo que a atitude de afastar a imprensa desse encontro foi criticada, apressou-se Passos Coelho a fazer uma conferência de imprensa tradicional, com a imprensa formal. Foi só mais uma prova da tal unidade utópica defendida pelo novo líder do PSD, que quer agradar a tudo e a todos. Se cedeu imediatamente a um reparo de um comentador jornalista, com que força irá implementar as tais medidas – que se desconhecem quase por completo – para salvar Portugal? Como manterá a unidade do partido, quando extinguir a nomeação política de gestores e deixar sem lugar os militantes “unidos”? É que a verdade é só uma: há hoje unidade, porque cheira a poder e, portanto, só perdurará se o poder for depois distribuído por todos…

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